segunda-feira, 21 de junho de 2010

A CATAPORA

Numa manhã friorenta de maio, as 10 horas deu-se o "ocorrido". Mãe tipo classe média alta entra com seu "filhote" todo encapotado no consultório.

Vai desde então, contando a história do "pimpolho", sabe doutor, vim da creche agora por que as "tias" mandaram que viesse ao médico verificar o que acontece com meu filho.

- O que acontece então minha senhora?
- Sabe doutor, ontem apareceu umas bolinhas nas mãozinhas do meu nene.

Com estes dados fui a "campo" fazer meu trabalho. Era um bebe de mais ou menos 10 meses de vida, gordinho, branquinho e só sorrisos! Na sua mão direita haviam três lesões caracteristica de estrófulo, essas lesões eram bem visivéis, passei então a palpação para me certificar do diagnóstico. Não tinha erro era estrófulo mesmo.

Passei então a explicar para a mãe o que estava acontecendo com seu "filhote":- Sabe mãezinha esta é uma reação alérgica muito comum a picada de inseto vou prescrever uma pomada para passar no local.

Quando ia explicar outros pormenores da doença fui interrompido.
- Doutor isso não é catapora?

Tenho que confessar que ela me pegou no contra-pé, pois tinha certeza absoluta de meu diagnóstico. Como certeza absoluta em medicina é perigoso, fui certificar de meu diagnóstico e perguntei:

- Mãe tem essa bolinhas no corpinho de seu filho?
- Como assim doutor?
- Na barriguinha, no peitinho nos bracinhos?
- Não sei não doutor.
- Como não sabe? A senhora não tirou a roupa de seu filho?
- Sabe doutor ele toma banho na creche e pela manhã sai direto do berço para a creche, quase nunca vejo ele peladinho.

Quase tive uma convulsão, a vontade era trucidar essa pseudo mãe, mas não sou pago para isso. Tirei a roupa do coitadinho e me certifiquei do diagnóstico correto - estrófulo. Pensei, esse cara vai ser um sério candidato ao divã de psicólogo!

Criança sofre, né?

quinta-feira, 17 de junho de 2010

OBJETIVO DO BLOG

A ideia é despretenciosa, estou com 33 anos de atuação profissional, gostaria de manter o registro dos absurdos vivenciados no dia a dia. Trabalho como pediatra no pronto socorro de um Hospital Infantil Público da cidade de São Paulo.
Este registro pretende ser democrático, portanto enriquecido com outras vivências profissionais. Objetiva também, manter o bom humor nas colocações, para que não se torne enfadonho e deprimente.
Historias o lado negro das mães pode ser problematico, pois nossa sociedade é matriarca! A ideia é deixar de lado a idealização das "figurinhas" e descrever o quanto as vezes alas são perversas.
Com muitos anos de profissão e atuando somente em PS escola, as questões técnicas relativas as doenças são extremamente "simples", O PROBLEMA SÃO AS MÃES. Essa afirmação é comum também entre os colegas mais novinhos.
Não me disponho em analizar o, porque, que as mães são um grande problema, apenas registra-los e como consequencia mostrar como é penoso o trabalho do pediatra que é sistematicamente desvalorizado pela nossa sociedade.
Abraços e bem vindos.

sábado, 12 de junho de 2010

QUESTÃO DE GENERO ?

Lógico que não, mães é só um indicativo para o responsável de plantão pela integridade da criança. Existem pais que são o "ó do forrobodó", vou contar uma "pérola" a para ilustrar essa afirmação.

História, tragicomica, que ocorreu há anos quando o PS estava em reforma e trabalhávamos em condições arquitetonicas e sanitárias fora de todos os padrões aceitáveis.


Numa noite, lá pelas 21 horas o PS estava lotado com pacientes saindo pelo "ladrão" quando entra no consultório uma mãezinha tipo frágil de fala mansa e muito preocupada. Seu bebe de aproximadamente 10 meses havia caído da cama do casal, chorado muito e ela estava preocupada.

Ótimo, um caso comum de PS e uma mãezinha muito responsável e vinculada a seu filhinho. Fiz uma história rápida e nada levava a uma possível lesão neurológica. Fui então para o exame físico; era um bebe bem cuidado, gordinho de lábios bem vermelhos em contraste com sua negritude, era a coisa mais linda do mundo.

Estava uma noite de verão, eu e a mãe deixamos ele peladinho, examinei ossinho por ossinho, como se diz o ditado popular, examinei de cabo à rabo, nenhuma lesão encontrada, o bebe era só sorrisos ao exame. Já com a mãe bem orientada e tranquila continuei meu trabalho.

Após algumas consultas entra esbaforido em meu consultório um "armário" que mal cabia no batente da porta e foi logo gritando: - Pô, "doto", você não vai nem tirar um "rao-x" de meu filho?

Fiquei perplexo e amedrontado, não entendi o estava se passando pois já estava em outro "mundo", demorou alguns segundos até me situar naquele contexto e engendrar uma resposta para garantir minha integridade física.
- Lógico que vou pedir o raio-x, aliais estava pensando nisso agora mesmo. Foi o que fiz mandei radiografar o pobrezinho!

Obs: Pediatra e criança sofrem, não é?

segunda-feira, 7 de junho de 2010

O ATESTADO MÉDICO

Num sábado friorento com garoa típica paulistana as 9h, atendo uma "mãe" com uma criança de 5 anos. O jovenzinho tinha uma historia de 12h de duração e com um exame físico caracteristico levou a um diagnóstico de uma "gripe comum".
Minha conduta expressa na receita era de sintomáticos, orientações gerais e um atestado médico para se ausentar da escola na segunda e terça feira. Tudo terminado e devidamente explicado, veio a pergunta "mortal" da "mãe". - Dr. você (?)* me de um atestado para eu ficar em casa?
Com toda a paciência (juro) expliquei a diferença de um atestado médico (afastamento por doença) e um atestado social (afastamento por não ter ninguém que olhe a criança) e lamentei não poder fazer o que ela queria. Ela saiu resmungando: - Isso não me serve pra nada.
Sem stress fiquei na minha, pois esse fato tem se tornado lugar comum. Passado alguns minutos entra no consultório o segurança (elemento indispensável no PS), indignado com a paciente que havia saído. - Dr. a paciente que saiu do seu consultório, rasgou sua receita jogou no chão e foi falando palavrões pelos cantos.
Ai sim "stressei", ficar brava com a burocracia institucional e trabalhista, vá lá, agora rasgar minha receita é o fim da picada, né? Que culpa a criança tem? Na realidade ela não estava nem ai com seu filho, queria isto sim, não ir ao trabalho.
Hare baba, pediatra sofre, né?
* Senhor é uma palavra abolida do vocabulario de muuuitas mães....